terça-feira, 29 de dezembro de 2009

É PRECISO REZAR SEM CESSAR - 1Ts 5, 17



É preciso rezar sem cessar (1Ts 5,17) - Relatos de um Peregrino Russo[1].

Os relatos foram publicados sem nome do autor. De acordo com o prefácio da edição de 1870, o padre Paísius, abade do mosteiro de São Miguel Arcanjo, em Kazan, teria copiado o texto de um monge russo de Athos, cujo nome ignoramos. Há indícios que fazem crer que os relatos foram redigidos por um religioso depois de suas entrevistas com o peregrino.[2]

Pela graça de Deus, sou homem e cristão; pelas ações, grande pecador; por estado, peregrino sem abrigo, da mais baixa condição, sempre vagando de deu em deu. De meu, tenho às costas uma sacola de pão seco, na minha camisa a santa Bíblia, e eis tudo.[3]

No vigésimo quarto domingo depois da Trindade, eu entrei na igreja para rezar durante o ofício; estavam lendo a Epístola do Apóstolo aos Tessalonicenses, na passagem que diz: Rezai sem cessar. Estas palavras penetraram profundamente em meu espírito e eu me perguntei como era possível rezar sem cessar quando cada um de nós tem de ocupar-se de muitos trabalhos para seu próprio sustento. Procurei na Bíblia e li com meus próprios olhos aquilo que ouvira – É preciso rezar sem cessar (1Ts 5,17), rezar em todo tempo, no Espírito (Ef 6,18), erguendo em todo lugar mãos santas (1Tm 2,8). Por mais que refletisse, não sabia o que decidir.  – O que fazer? Pensava. Onde achar alguém que possa explicar-me essas palavras? Eu irei às igrejas onde pregam homens de renome e aí talvez eu ache o que procuro.[4] 
O monge acolheu meu pedido com bondade (...) A interior e constante oração de Jesus é a invocação contínua e ininterrupta do nome de Jesus, com os lábios, com o coração e com a inteligência, no sentimento de sua presença, em todo tempo, em todo lugar, mesmo durante o sono. Essa oração se exprime pelas palavras: - Senhor Jesus Cristo, tende piedade de mim![5]

O que significa orar sem cessar? Como realizar isto.  Procurou diversas pessoas que o pudessem ajudar, grandes oradores, mestres espirituais, e nenhum deles conseguiu saciar sua sede.  Temos essa mesma realidade hoje em dia, por vezes falamos muitas coisas, enchemos os ouvidos das pessoas com belas e sentimentais frases, porém vazias de essência, isto é vazias de Deus.
Dom Bosco, sempre recomendava aos seus meninos e salesianos que sempre rezassem pequenas invocações, jaculatórias, e completava dizendo que era uma das breves formas de se louvar a Deus e ao mesmo tempo de se estar em sintonia com Ele.
            O Peregrino encontra um guia espiritual, um mestre, monge idoso, que lhe mostra o que significa a oração perpétua, e como ela pode ser praticada. E não é pelo discurso vazio, repleto de sentimentalismos, ou simplesmente pelas obras bem feitas e pela quantidade das mesmas. É o contrário, é de uma profunda união com Deus, e é pela oração que encontramos sentido para as boas obras e para tudo o que fazemos.
            Cito novamente Dom Bosco, que foi um homem de grandes obras, mas é justamente porque muito estava em sintonia com Deus, em oração, encontrava nessa intimidade com Deus, força e sentido para realizar grandes coisas para os meninos de sua obra. Muitas vezes costumamos dizer que o trabalho é nossa oração, mero engano quando não estamos em verdadeira união com Deus. Nosso trabalho, e toda boa obra que fazemos são nada senão estivermos em união com Deus.
            Essa inquietação deve estar presente na vida do cristão, a de estar sempre procurando esta intima relação com Deus. E a oração perpétua, a oração do coração, deve nos motivar a buscar uma íntima e profunda união com Deus e repetir sempre: Senhor Jesus Cristo, tende piedade de mim.
Encerro este breve comentário sobre o livro Relatos de um Peregrino Russo com uma citação de Henri Nouwen: “A oração do coração’: Assim, a oração do coração é a oração da verdade. Desmascara as muitas ilusões sobre nós mesmos e sobre Deus e nos conduz ao verdadeiro relacionamento do pecador com o Deus misericordioso. Essa verdade é o que nos dá o "descanso" do hesicasta[6]. Quando ela se abriga em nosso coração, somos menos distraídos por pensamentos mundanos e nos voltamos mais sinceramente para o Senhor de nossos corações e do universo. Assim, as palavras de Jesus: "Felizes os corações puros: eles verão a Deus" (Mt 5,8) tornam-se reais em nossa oração. As tentações e as lutas continuam até o fim de nossas vidas, mas com um coração puro ficamos tranqüilos, mesmo em meio a uma existência agitada.(...) Como nós, que não somos monges nem vivemos no deserto, praticamos a oração do coração? Como ela influencia nosso ministério cotidiano?
A resposta a essa pergunta está na formulação de uma disciplina definitiva, uma regra de oração. Há três características da oração do coração que nos ajudam a formular essa disciplina:
A oração do coração alimenta-se de orações breves e simples.
A oração do coração é incessante.
A oração do coração inclui tudo.
Alimenta-se de Orações Breves
No contexto de nossa cultura verbosa, é significativo ouvir os monges do deserto nos aconselhando a não usar palavras em excesso:
"Perguntaram ao aba Macário: 'Como se deve rezar?' O ancião respondeu: 'Não há, em absoluto, necessidade de fazer longos discursos; basta estender a mão e dizer: Senhor, como queres e como sabes, tem misericórdia. E se o conflito ficar mais ameaçador, dizer: Senhor, ajuda. Ele sabe muito bem do que precisamos e nos mostra sua misericórdia'"[7].

P.André L. Simões



[1] Relatos de um Peregrino Russo, Jean Gauvain , Paulus,11ª edição,2004 
[2] Ibidem
[3] Ibidem Primeiro relato p.13
[4] Ibidem
[5] Ibidem p.22
[6] Pode definir como um sitema espiritual de orientação essencialmente contemplativa, que consiste no aperfeiçoamento do humano na busca da união com Deus através da oração contínua.
[7] http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/espiritualidade/a_oracao_do_coracao.htm

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

ASSIM COMO O PAI ME AMOU, TAMBÉM EU VOS AMEI





Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor.

Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor. ( Jo 15,9)


Cristo muito nos ama e deu-nos a vida como prova desta entrega incondicional e misericordiosa.  Ele nos revela o amor do Pai, nos chama de amigos, nos faz participantes da vida divina.
Este amor nos transforma e nos faz novos na ação do Espírito, nos faz caminhar em direção ao Pai que está sempre a nos esperar.
No Filho temos a certeza de que amando e seguindo seus mandamentos teremos a certeza da escuta de nossas orações.
Seguindo os mandamentos do amor, seremos as testemunhas da Luz que brilha para o mundo infelizmente marcado pelo egoísmo e pela dor.
Cristo nos chama de amigos, porque nos dá a conhecer o que lhe foi revelado. Somos discípulos e discípulas do Senhor que mostra ao mundo o Amor sem limites com que ELE nos amou e ama.
Nosso testemunho precisa ser coerente conforme os mandamentos de Cristo e nossa oração necessita ser repleta da presença do Espírito, sem esta adesão ao Espírito Santo não rezamos como nos alerta santa Teresa.
             Não basta dizer que ama a Deus, é preciso conhecê-lo e só o conhece quem ser deixa conduzir pelo Espírito. Somente assim nesta presença do Espírito nos assemelhamos ao Filho e no Filho seguindo seus mandamentos nos tornamos um com o Pai.
            Santo Ireneu no diz: “Deus Pai nos modela com suas duas mãos, o Filho e o Espírito; é através deles que podemos conhecê-lo”.
Somente quem é dócil a voz do Espírito e quem é humilde de coração, adquire o dom de Deus.
             Não é a agitação do dia-a-dia, nem o conhecimento humano que nos garantem a presença do Espírito em nossa vida, mas é o coração humilde e dócil que se coloca a servir e a amar.
            No livro de regras dos Salesianos, chamada de Constituições existe este um artigo que diz o seguinte para os filhos de Dom Bosco: “Cultiva a união com Deus, consciente da necessidade de rezar sem interrupção em diálogo simples e cordial com o Cristo vivo e com o Pai que percebe perto de si. Atento à presença do Espírito e tudo fazendo por amor de Deus, torna-se, como Dom Bosco, contemplativo na ação”. (C.12)
            Esta é uma regra a todos nós cristãos, que queremos amar a Cristo e sua Igreja para sermos testemunhas da misericórdia e bondade de Deus que é Uno e Trino. P. André L. Simões

domingo, 20 de dezembro de 2009

Lançar-se nas mãos de Deus



Lançar-se nas mãos de Deus, só é realidade se estivermos dispostos a amar com verdadeira alegria e liberdade. Tolerar com humildade as adversidades, fraternos de coração, mas isso não pode ser somente um mero desejo, é necessário exercitar-se no amor, ama quem é livre; quem conhece e busca verdadeiramente um encontro com Deus.
Veremos neste trecho de 1Pedro, 3,8-12 o compromisso que devemos ter.

Amor mútuo 3,8-12

Finalmente, sede todos unânimes, compassivos, fraternais, tolerantes humildes.
Não pagueis o mal com  mal, nem injúria com injúria;
Pelo contrário, bendizei, pois para isto fostes chamados: para serdes herdeiros da benção,
Pois quem quer amar a vida
E deseja ver dias felizes,
Refreie sua língua do mal
Seus lábios de proferir falsidade.
Aparte-se do mal e pratique o bem,
Busque a paz e a anele,
Porque o olhar do Senhor se volta para os justos,
E seu ouvido, para a suplica deles.
O rosto do Senhor, porém, ameaça os malfeitores.

A palavra ‘finalmente’ indica que o autor está chegando ao fim de uma série de exortações. Primeiro são enumeradas as qualidades necessárias para a vida dentro de uma comunidade. Os membros devem ser unânimes. Em todos os setores da vida e do pensamento, devem estar prontos às renuncias necessárias para o bem comum da Comunidade.
A comunidade é chamada a um grande ideal: não atrito, mas compreensão e amor mútuo. Em especial, os cristãos são chamados a não desanimar com as suspeitas e a hostilidade dos vizinhos. Devem suportar insultos e injúrias e dar a benção em troca. Além do mais, os cristãos são novamente chamados a uma excelência digna de sua vocação cristã. Como diz o salmista: ’Guarda a tua língua do mal e teus lábios das maledicências. Evita o mal, faze o bem, procura a paz...
O salmo é usado com uma compreensão mais profunda, cristã. Originariamente era uma regra sapiencial, mostrando o caminho para uma vida feliz aqui na terra, na base da convicção de que Deus está ao lado dos bons. A interpretação cristã vai muito mais longe. Fala da plenitude da vida escatológica que espera aqueles que fazem o bem. P.André L. Simões


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

MÃE E MESTRA




MARIA, MÃE DE DEUS E NOSSA
A virgem Maria, que na anunciação do anjo recebeu o Verbo de Deus no seu coração e no seu corpo, e deu a vida ao mundo, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. É verdadeiramente mãe dos membros (de Cristo)... porque com seu amor colaborou para que na Igreja nascessem os fiéis, que são os membros daquela cabeça. Lumen Gentium 53.
Este trecho foi retirado da Constituição Dogmática sobre a Igreja - Lumen Gentium. Manifesta a grandeza de Maria na vida da Igreja e na nossa vida. Diz ainda outra bela passagem a Constituição ‘ Filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo’.
Como deixar de venerar a Mãe de Deus e nossa? Ela merece nossa veneração e nosso respeito, por isso como filhos amados nós nos aproximamos da mãe para chegar sempre mais perto do filho. Ela nos orienta a caminhar, corajosa e silenciosamente.
Dom Bosco, sempre dizia aos seus meninos e colaboradores que não há pessoa que não seja atendida em suas necessidades quando recorre a Nossa Senhora. Portanto é preciso cultivar nossa veneração a Maria, prestar-lhe nossas humildes homenagens, com coração sincero e devoto. Rezar as orações Marianas com a certeza que seremos ouvidos e nosso coração consolado.
Nosso amado pai e mestre da juventude teve desde cedo um contato filial a Maria. E a grande guinada de sua vida o acontecimento do sonho dos nove anos podemos perceber esta realidade.
Dom Bosco mesmo no relata o sonho e aqui temos um pequeno trecho:
Aos nove anos teve um sonho profético: pareceu-lhe estar no meio de uma multidão de crianças ocupadas em brincar; algumas delas, porém, proferiam blasfêmias. Joãozinho lançou-se, então, sobre os blasfemadores com socos e ponta-pés para fazê-los calar; eis, contudo, que se apresenta um Personagem dizendo-lhe: `Deverás ganhar estes teus amigos não com bastonadas, mas com a bondade e o amor... Eu te darei a Mestra sob cuja orientação podes ser sábio, e sem a qual, qualquer sabedoria torna-se estupidez`. O Personagem era Jesus e a Mestra Maria Santíssima, sob cuja orientação se abandonou por toda a vida e a quem honrou com o título de `Auxiliadora dos Cristãos`.
Jamais em sua vida deixará de recorrer a esta mãe amorosa e auxiliadora. Toda a sua existência, seu trabalho incansável para a salvação das almas teve sempre como porto seguro a Eucaristia e a devoção a Maria Santíssima.
Desta profunda devoção filial a Maria, Ele ensinava, educava os seus filhos a buscar sempre esta confiança filial. Mostrava a eles e a toda família salesiana o quão importante e necessário a fé esta maternal devoção.
Vemos estes exemplos de entrega e confiança em muitos jovens da família salesiana e em particular em dois jovens modelos de santidade juvenil: Domingos Sávio e Miguel Magone, ambos encontraram em Maria um porto seguro, uma mãe amorosa e amável que está sempre disposta a mostrar o caminho da pureza e da caridade para um encontro com Cristo, Bom Pastor.
Vejamos os exemplos narrados pelo próprio D. Bosco em seus escritos espirituais: Eis o relato sobre Domingos Sávio: “Na tarde daquele dia 8 de dezembro; prostrou-se diante do altar de Nossa Senhora e repetiu muitas vezes estas palavras: ‘Ó Maria, dou-vos o meu coração; fazei que eu seja sempre vosso. Jesus e Maria, sede sempre meus amigos! Mas por amor de Deus, fazei-me morrer antes que me aconteça a desgraça de cometer ainda que seja um só pecado”.
A respeito de Miguel Magone temos: “ deram-lhe um dia de presente uma imagem da Santíssima Virgem Maria, na qual se achavam escritas as seguintes palavras: ‘vinde, filhos, escutai-me, eu vos ensinarei  o temor de Deus’.  Principiou a refletir seriamente sobre este convite; depois escreveu uma carta ao seu diretor espiritual na qual lhe dizia como Nossa Senhora lhe tinha feito ouvir a sua voz, convidando-o a ser bom, e ela mesma lhe queria ensinar o modo de temer a Deus, amá-lo e servi-lo” .
Que nossa devoção a Mãe de Deus cresça sempre mais e possamos ser firmes na fé, dando nosso sim a cada dia.
Maria, mãe de Deus e nossa: Rogai por nós que recorremos a vós. P. André Luiz Simões.